Junho Vermelho: um guia completo sobre doação de sangue

imagem em vermelho e branco com os dizeres "Junho Vermelho" e um ícone de coração em forma de gota de sangue

O Junho Vermelho é uma campanha de conscientização sobre a importância da doação de sangue, realizada com muito mais afinco durante todo o mês. Essa campanha tem como objetivo incentivar as pessoas a se tornarem doadoras de sangue e contribuir para a manutenção dos estoques dos hemocentros e hospitais de todo o Brasil.

Com início no país em 2015, é uma referência ao Dia Mundial do Doador de Sangue, que é comemorado em 14 de junho. E também é uma homenagem ao imunologista austríaco Karl Landsteiner (1868 – 1943), que foi o responsável por descobrir os tipos sanguíneos, em 1901.

O mês, inclusive, marca o início do inverno (21 de junho de 2023) e, além disso, não apenas por conta das baixas temperaturas, foi escolhido também por conta do período de férias escolares e há possibilidade de ter maior adesão da população.

Ato solidário

A doação de sangue é um ato solidário e voluntário que salva muitas vidas. Desde a pandemia da COVID-19, pudemos ver constantemente nos noticiários de todo o país, que muitos hemocentros e hospitais no mundo todo ficaram com baixo estoque. Lembrando que o sangue é essencial para cirurgias de emergência, transfusões para pacientes com anemia, tratamento de câncer, complicações durante a gravidez, entre outras condições médicas importantes.

Durante esse período – melhor dizendo, especialmente durante esse período, são realizadas muitas campanhas para estimular a população a doar sangue. Hemocentro e hospitais realizam ações de conscientização, palestras, eventos e parcerias com empresas, escolas e organizações da sociedade civil para ampliar o alcance da mensagem.

O slogan deste ano para a campanha World Blood Donor Day 2023, organizada pela Organização Mundial da Saúde – OMS é “give blood, give plasma, share life, share often”, ou seja, em tradução livre “dê sangue, dê plasma, compartilhe vida, compartilhe com frequência”.

imagem da World Health Organization com o escrito World Blood Donor Day
créditos da imagem: World Health Organization

A campanha é focada em destacar pacientes que necessitam de suporte transfusional ao longo da vida e destaca o papel que cada pessoa pode desempenhar, dando o valioso presente em forma de sangue ou plasma. 

Além do mais, também destaca a importância de doar sangue ou plasma regularmente para criar um suprimento seguro e sustentável de sangue e hemoderivados que possam estar sempre disponíveis, em todo o mundo, para que todos os pacientes necessitados possam receber tratamento oportuno no momento certo.

Assembleia Mundial da Saúde

Criada oficialmente em 2005 durante a Assembleia Mundial da Saúde, a campanha ainda reforça que, em muitos países, os serviços de sangue enfrentam o enorme desafio de disponibilizar sangue suficiente e, ao mesmo tempo, garantir sua qualidade e segurança

A falta de acesso a sangue e produtos sanguíneos seguros – especialmente em países de baixa e média renda, afeta todos os pacientes, incluindo aqueles que necessitam de transfusão regular.

imagem da World Health Organization com uma paciente deitada numa cama atrás de uma imagem de uma bolsa de sangue
créditos da imagem: World Health Organization

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Processo de doação

É importante frisar que há mitos em torno da doação de sangue, como o medo da dor ou do desconforto, desmaios, entre outros. É preciso dizer que o processo é seguro, rápido e indolor. Qualquer pessoa saudável, com idade entre 16 e 69 anos e que atenda aos critérios de triagem pode se tornar um doador. Os critérios estão mais abaixo, neste artigo.

A doação se resume a retirada de aproximadamente 450ml de sangue da pessoa voluntária. Outro ponto importante de ressaltar é que cada doação pode salvar até 4 vidas, você sabia?

É claro que precisamos também destacar que todo o material utilizado durante o processo de doação é completamente descartável, sem nenhum risco de qualquer tipo de contaminação. Pode ir sem medo!

Doação por aférese

Existe uma outra modalidade de doação de sangue que é menos comentada. A doação por aférese é um processo que envolve a separação e coleta de componentes específicos do sangue do doador. 

Por meio de um equipamento especializado, é possível extrair apenas as plaquetas, o plasma e/ou os glóbulos desejados, devolvendo o restante ao doador por meio de uma única punção venosa no braço.

Todos os doadores de sangue têm a possibilidade de se tornarem doadores de componentes por aférese. Para realizar essa forma de doação, é necessário que a pessoa já tenha doado sangue anteriormente e possua uma veia adequada para o procedimento.

Não sei se você sabe, mas uma única bolsa de plaquetas colhida por aférese pode substituir até sete pequenas bolsas de plaquetas obtidas de sete doações de sangue total (de sete doadores diferentes).

Mas, fique tranquilo, durante a doação de glóbulos por aférese, são coletadas duas bolsas de glóbulos vermelhos, correspondendo ao mesmo volume retirado em uma doação de sangue convencional. 

Esse tipo de doação contribui significativamente para os estoques de sangue em situações de maior demanda ou quando há necessidade de tipos sanguíneos mais raros.

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Frequência da doação

Se você deseja se tornar um doador frequente, de acordo com informações do Hospital Sírio-Libanês, o intervalo para doação de sangue é de 60 dias para os homens, até o limite de quatro doações/ano e de 90 dias para as mulheres, até o limite de três doações/ano. Mas lembre-se sempre de consultar seu hospital ou hemocentro.

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imagem com duas mãos segurando um coração vermelho para doação de sangue
A importância da doação de sangue

Requisitos para a doação de sangue

Para poder doar sangue nos hemocentros e hospitais da sua região, você precisa cumprir alguns requisitos básicos, ainda segundo informações do Hospital Sírio-Libanês. Para isso você deve: 

  • Estar em boas condições de saúde;
  • Estar Alimentado;
  • Documento oficial com foto; físico ou app;
  • Endoscopia, colonoscopia: aguardar 6 meses;
  • COVID: pode doar após 30 dias da alta médica (cura);
  • Tatuagem: aguardar 12 meses;
  • Vacina Gripe: aguardar 48 horas;
  • Vacina COVID: aguardar 7 dias;
  • Bebida alcóolica: aguardar 12 horas;
  • Usando Antibiótico: depois de 15 dias que terminar o tratamento;
  • Usando Anti-inflamatório: depois de 3 dias que terminar o tratamento;
  • Gripe, resfriado: depois de 7 dias da cura e sem medicação;
  • Botox: após 15 dias;
  • Ácido Hialurônico: após 90 dias;
  • Procedimento Dentário: à consultar.

Mas, então, quais são os impeditivos?

Claro, nem todo mundo pode doar sangue. Existem alguns impedimentos. Sendo assim, veja se você se enquadra em algumas das questões abaixo:

  • Hepatite após os 11 anos de idade;
  • Ter contraído a doença de Chagas, Malária, Sífilis, HTLV, hepatite B, C e HIV;
  • Uso de drogas ilícitas e injetáveis.

Impeditivos temporários

Existem, também, alguns impeditivos que são temporários para a doação de sangue. Mas, antes de tudo, é importante destacar que você deve entrar em contato com o seu hospital ou hemocentro para ter acesso às informações mais completas, tudo bem? 

Os impeditivos temporários são:

  • Ter sido vítima de violência sexual;
  • Ter estado preso;
  • Estar gripado, com mal estar ou herpes;
  • Estar em tratamento de epilepsia;
  • Ter diabetes sendo necessário o uso de insulina;
  • Estar grávida ou amamentando com intervalo menor que 12 meses.

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Tipos Sanguíneos

Existem quatro tipos sanguíneos que são considerados principais: A, B, AB e O, descobertos por Karl Landsteiner, em 1901. Cada tipo sanguíneo é determinado pela presença ou ausência de certos antígenos nas células vermelhas do sangue. 

Além disso, cada tipo sanguíneo pode ser positivo (+) ou negativo (-), dependendo da presença ou ausência do fator Rh, que foi descoberto em 1940 pelos cientistas Landsteiner (o mesmo que descobriu os tipos sanguíneos) e Wiener por meio de experimentos em macacos do gênero Rhesus. Por isso a descoberta leva o nome de Fator Rh.

Aqui você vai ver os tipos de forma geral e, logo abaixo, há uma tabela detalhada pelo Fator Rh. Sendo assim, os tipos são:

Tipo A

Esse tipo de sangue possui antígenos de tipo A nas células vermelhas do sangue e anticorpos anti-B no plasma. Pessoas com esse tipo sanguíneo podem doar sangue para aqueles com tipos A e AB e receber sangue de pessoas com os tipos A e O.

Tipo B

Esse tipo de sangue possui antígenos de tipo B nas células vermelhas do sangue e anticorpos anti-A no plasma. Pessoas com o tipo sanguíneo B podem doar sangue para B e AB e receber sangue de pessoas com os tipos B e O.

Tipo AB

Esse tipo de sangue possui tanto antígenos de tipo A quanto de tipo B nas células vermelhas do sangue e não possui anticorpos anti-A nem anti-B no plasma. Pessoas com esse tipo sanguíneo são consideradas “receptores universais” para a transfusão de sangue, pois podem receber sangue de qualquer tipo (A, B, AB ou O), mas só podem doar para pessoas com o tipo AB.

Tipo O

Esse tipo de sangue não possui antígenos de tipo A nem de tipo B nas células vermelhas do sangue, mas possui tanto anticorpos anti-A quanto anti-B no plasma. Pessoas com esse tipo sanguíneo são consideradas “doadoras universais” para a transfusão de sangue, pois podem doar sangue para qualquer tipo (A, B, AB ou O), mas só podem receber sangue do tipo O.

Além desses tipos sanguíneos, o fator Rh é outro componente importante, como falamos mais acima. Se uma pessoa tem o fator Rh presente em suas células vermelhas do sangue, é considerado Rh positivo (+), enquanto se não possui, é considerado Rh negativo (-).

Veja a tabela abaixo como funciona a questão da doação ou recebimento por tipo sanguíneo levando em consideração o fator Rh:

imagem de uma tabela com os tipos sanguíneos e quem pode doar e receber de qual tipo
Tabela de tipo sanguíneo e recebimento/ doação
Reprodução Gimba

Não sei meu tipo sanguíneo, e agora?

Se você não tem conhecimento sobre o seu tipo sanguíneo, é possível descobrir através de exames de sangue antigos. Se mesmo assim você não possuir nenhum resultado disponível, é possível solicitar um exame de tipo sanguíneo, como um hemograma, por exemplo, que fornecerá as informações necessárias. 

Esse exame é bem completo e analisa diversas informações. De forma geral, o hemograma traz informações como: plaquetas, responsáveis pela coagulação sanguínea, glóbulos brancos, que são os leucócitos, e glóbulos vermelhos, que são as hemácias.

imagem com gotas de sangue com os tipos sanguíneos ao lado de cada uma
Tipos sanguíneos

Bem, por último e não menos importante, se você é trabalhador com carteira assinada, outra questão que podemos destacar neste texto é que, de acordo com o inciso IV do artigo 473 da CLT, o empregado poderá deixar de comparecer ao serviço, sem prejuízo do salário, por um dia, a cada 12 meses, em caso de doação voluntária de sangue devidamente comprovada.

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O que é sangue?

Sangue é um tecido vivo que circula pelo corpo humano e é responsável por levar oxigênio e diversos nutrientes para todos os nossos órgãos. Como vimos acima, ele é composto por plasma, hemácias, leucócitos e plaquetas, certo? Agora, vamos entender mais detalhadamente o que é cada um deles:

Plasma

De acordo com informações da Fundação Pró-sangue, o plasma, de coloração amarelo-palha, é a parte líquida do sangue, sendo que a água representa 90% da sua composição, também possui proteínas e sais, que são substâncias responsáveis pela vida celular. Além disso, o plasma representa 55% do volume do sangue que circula em nosso corpo.

Hemácias

As hemácias são os famosos glóbulos vermelhos e contém um elevado teor de hemoglobina, que é uma proteína bastante avermelhada e que contém ferro. Eles que dão a cor vermelha para o nosso sangue! É a hemoglobina que ajuda as hemácias a levar oxigênio para as células, mantendo-as vivas. Segundo dados da Fundação, existem entre 4 e 5 milhões de hemácias por milímetro cúbico de sangue.

Leucócitos

Os leucócitos são conhecidos por glóbulos brancos e são a linha de frente de defesa do organismo, acionados quando há infecções por vírus, bactérias e outros. Podemos dizer que eles são nossos soldados e estão sempre prontos para a batalha! Existem entre 5 a 10 mil leucócitos por milímetro cúbico de sangue.

Plaquetas

As plaquetas são células que ajudam o sangue a coagular, agindo em qualquer tipo de sangramento, principalmente em hemorragias. Segundo dados da Fundação, existem entre 200 e 400 mil plaquetas por milímetro cúbico de sangue.

Mas, afinal, de onde vem o sangue? Ele brota na gente? Como poucas pessoas sabem, o sangue é produzido principalmente na medula óssea dos ossos chatos, nas vértebras, costelas, quadril, crânio e esterno, que é um osso que fica localizado no tórax, na frente do nosso peito.

História do Sangue

Você sabia que existe uma história? Bem, o sangue é a base que sustenta a vida. Além do mais, o fato que o sangue também pode salvar vidas remonta de tempos antiquíssimos.

A gente sabe por ter visto em alguns filmes que nobres comumente bebiam sangue de gladiadores que eram mortos nas arenas de combate para conseguir a cura de muitos males. E, hoje, a gente sabe que essa não é forma correta de cura, mas nem sempre foi assim.

Existe, também, uma história de que um papa do século XV, conhecido como papa Inocêncio VIII, nascido Giovanni Battista Cibo, em Roma,  (1432 – 1492) estava à beira da morte quando seu médico sugeriu que ele teria que beber o sangue de três jovens para restabelecer a sua saúde mas, claro, sem sucesso.

imagem por dentro de uma veia com hemácias

Armazenamento e bancos de sangue

Uma das grandes discussões ao longo do tempo foi como armazenar o sangue de forma segura para serem criados os bancos de sangue. Segundo dados históricos, a primeira transfusão foi realizada apenas em 1918, com um sangue armazenado há mais de 26 dias, durante um episódio da segunda guerra mundial.

Só para você ter ideia, hoje, o prazo de validade de uma bolsa de sangue varia entre 35 a 42 dias, através de um processo conhecido como criopreservação, que é quando a temperatura de armazenamento fica abaixo de 65 graus celsius. Nessas condições, o sangue pode se manter intacto por mais de 10 anos.

O primeiro banco de sangue surgiu, então, alguns anos depois, em 1936, durante a guerra civil espanhola, com um sistema que foi idealizado apenas em 1932. Após a segunda guerra mundial, o sistema se expandiu para todo o mundo.

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As primeiras transfusões de sangue

A primeira experiência de transfusão de sangue em humanos é datada de 1667, em Paris, quando um professor de filosofia e matemática, que era médico do rei Luís XIV, fez três tentativas de inserir o sangue de um carneiro num homem que vagava sem destino pelas ruas da cidade. 

Esse médico se chamava Jean Baptiste Denis (1635 – 1704), e ele acreditava que o sangue de animais era livre de todos os vícios e paixões. Esse tipo de transfusão foi rapidamente proibida em diversas faculdades de medicina da época, inclusive a de Paris, Roma e da Inglaterra.

Claro, apesar de proibidas, muitos experimentos continuaram a ser feitos. Apenas em 1818, um obstetra inglês chamado James Blundell (1790 – 1878) transfundiu sangue humano com sucesso em mulheres com hemorragia pós-parto.

As transfusões eram conhecidas como heterólogas (animais de espécies diferentes) e homólogas (animais da mesma espécie).

Se você gostaria de participar das campanhas do Junho Vermelho (não somente neste período) e se tornar um doador para ajudar a salvar vidas, indicamos que você entre em contato com o hemocentro ou hospital mais próximo da sua região para obter mais informações, tudo bem?

Existem milhares de vidas precisando de sangue agora mesmo! Se você tem algum receio, pense direitinho, cogite colaborar com esse movimento e salvar vidas que tanto precisam de sangue.

Contudo, vale lembrar que a doação de sangue é um gesto muito nobre e solidário que, com certeza, irá fazer a diferença na vida de muitas pessoas.

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2 Comentários em “Junho Vermelho: um guia completo sobre doação de sangue”

  1. Olá, Mundo Gimba! Fico muito feliz ao ler um artigo tão completo e de fácil compreensão sobre a importância da doação de sangue, pois sou doadora há mais de 40 anos, e quase todas as vezes em que vou aos hemocentros, encontro-os vazios! Essa iniciativa de encorajarem a doação é louvável, porque há pouca informação na mídia sobre o que vocês trouxeram à tona: o que é o sangue, quais são os tipos sanguíneos, seus componentes, sua história e trajetória científica. Agradeço muito pela matéria, pois mesmo sendo doadora há tanto tempo, não sabia de todos esses detalhes! Parabéns!

    1. Olá, Rosângela! Ficamos imensamente felizes com seu comentário! Agradecemos por compartilhar sua experiência como doadora há mais de 40 anos e por reconhecer a importância de incentivar as pessoas a doarem. Saber que nossa matéria trouxe novos conhecimentos, mesmo para alguém com tanta experiência como você, é extremamente gratificante. Parabéns por seu compromisso e por salvar vidas ao longo de todos esses anos 🙂

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